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23 de janeiro de 2012

O velho ( de quase 30) em paz.

    Eu não sei exatamente como dizer, mas de algum jeito eu acabei por me encontrar em encruzilhadas e esbarrões escritos de várias formas, de várias maneiras. Talvez seja difícil expressar através de palavras, mas com um tempo a vida me ensinou que muito da magia, da força quase mágica presente em um corpo jovem, acaba por construir uma muralha de lembranças. Quadros distribuídos em ordem aleatória e pintados com tinta de sorrisos, lágrimas, abraços apertados e ao mesmo tempo borrado por cicatrizes que deixam o pensamento rígido e as atitudes mais objetivas. Sim, o tempo passa.
    Talvez eu esteja velho demais para ainda querer matar o meu tempo ocioso (e não livre) em botecos sem papo e noites que não acabam, que se postergam de quinta a domingo, quando não de domingo a domingo. Talvez eu esteja velho pra buscar em cada rosto um gosto diferente e um significado novo pra libido. Talvez ainda, esteja velho pra ficar indeciso ou ficar inquieto na hora de dormir ao perder o sono, compor uma musica.
    Besteira. Velho é a tua avó ou o teu pai. E se não servir é a tua mãe ou a tua tia. Toda idade tem prazer e medo..., toda idade tem sua parcela de incertezas e a sua cota de insegurança, energia e vontade de abraçar o mundo. Talvez o que me torne velho seja a maneira que eu escolhi para lidar com isso tudo.
    Além de marcas na pele que simbolizam triunfos de encontros com a dor, também fica a cicatriz de um rosto marcado por testa franzida. O tempo. O terror de toda criança que não quer crescer, de todo adulto que não deseja deixar o conforto do útero que um círculo social regado de álcool barato e entorpecentes, proporciona. Esse tempo, essa medida que me curou de sofrimentos, perdas, me impôs as melhores lembranças e me faz chegar a quase trinta primaveras vividas sem muitos arrependimentos.
    Eu como qualquer ser vivo, poderia me perder em um mundo de possibilidades, poderia continuar a escrever histórias dramatizadas em contos apaixonados e músicas jurando amor eterno. Não sei por onde, não sei de que jeito e jamais saberia explicar o porquê de tantas coisas acabarem perdendo o brilho. Mas de certo afirmo que algumas horas sou vencido pela preguiça de viver os dramas. A praticidade torna a vida mais leve e tudo o que é desgastante tende a ficar mais distante.
    Não me referindo à praticidade de ter que ter dinheiro para construir sonhos, eu me refiro à praticidade de buscar evitar as aporrinhações. Fazendo da bagunça um emaranhado de pensamentos e não um amontoado de deveres e responsabilidades. Desse jeito menos menino, sem discurso encantando contra o mundo, escrito em cada verso e pegada nas areias da noite carioca , vou me despedindo do THC e da busca por tabaco para matar a ansiedade. Eu escolhi o desapego. Ser feliz sozinho, mesmo querendo dividir o mundo de um, por dois.
    Dois. Um par pode não ser um número muito extenso, mesmo assim as centenas que em número são grandes, jamais serão tão fortes como dois. Depois de quase três décadas eu fui descobrir que é preciso cuidar e deixar ser cuidado, e mesmo que em tempos diferentes, é dividindo que se multiplica.
Bem, pensando nessa razão, nesse sentido encontrado em um, eu decidi dividir os meus sonhos, as minhas vontades e os meus quereres. Dividi por dois e não em dois.
    Não é desespero, não é carência, não é apego. Eu chamaria de amor sereno, de necessidade de cheiro, de presença de espírito e de cumplicidade enamorada. Os planos começam a ser traçados, eu troquei o foco embaçado. Troquei antigos jogos de sedução e salivas sem dono ou nome,  por sorrisos de um anjo caído, esbanjando libido e me abraçando apertado antes mesmo de dizer bom dia. Eu lancei ao chão cada taça de entrega aos amores de vidro, escolhendo por ser um pouco mais solitário para não me sentir sozinho em uma multidão de falsos abraços.
    Me encontrei comigo, não prometi o mundo a ninguém. Fiz do meu eu o meu melhor amigo, pra só assim conseguir abraçar o alvo dos meus sonhos, a essência dos meus sentidos, a mulher que me ensinou a ser homem crescido sem deixar de ser menino.
    E que venham mais trinta, quarenta, que sejam cem. Mas que sejam todos esses, anos de amor em convívio. Amor obrigado a ser livre, ganhos da soma de dois, tornando sonhos maiores e os laços mais apertados. E o meu recado: deixem o velho em paz porque esse não se acha velho e tá pouco ligando pro que a opinião dos donos da verdade diz.