O verão se foi desde março deixando espaços brancos em parágrafos de afeto. Sigo apreciando as flores fora de época, os tons pastéis, os dias nublados. Acordo tocando a memória do corpo, fugindo de outros corpos, sentindo a sua presença bem alí: entre um nó na garganta e o peito, me deixando de guarda baixa, me fazendo mudar o semblante, reafirmando velhas perspectivas.
Sinto sua falta. Desde o dia em que te conheci, desde ontem, desde hoje e acho que por enquanto, sempre. Eu iria atrás, eu perderia a postura, eu te ligaria todos os dias, procurando sua presença, seu colo, você nua. Não enlouqueci e desci pra rua, pra caminhar, pegar um vento. Ironicamente a chuva não me incomodou porque era tão fina que meu cigarro de cheiro suspeito continuava aceso. Cheguei na praia, olhei pro mar desfranzindo a testa, relaxei a expressão e dei graças por ele ainda estar ali. Revolto, imponente, respirando através das ondas que se quebravam na arrebentação. Olhei pro céu e a lua quase cheia não aparecia mas ainda sim com esperança, tranquei meus sonhos em uma garrafa cheia de flores e antes de pensar em pedir qualquer coisa - te desejei do fundo do meu coração, toda a felicidade do mundo. Me pus no meu lugar, olhei pra frente, evitando me perguntar o porquê de doer tanto ser todo, ser por inteiro e quando o peito grita, não ser o suficiente. Somos nossas vivências e o corpo, tem memória.