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23 de junho de 2024

Um Lugar Só Seu

Meus sentidos. Meu senso, minha paixão e meu abrigo. Olhei ao redor e me perdi em rostos sem nome, em pedaços de histórias começando e terminando como em um roteiro de romance meia-boca.  Senti no gosto do copo, a saudade de algo que ainda me entranha o corpo e grita por mais. Suspirei engolindo seco a leviandade de um afago despretensioso de quem pôs mira aos olhos de um outro e foi pego no pulo, admirando a beleza das possibilidades.

Incertezas na melodia escrita em cigarros com gosto de drinks quase-amargos, embalando um corpo quase jovem despido que entre lençóis se contorcendo, me fazendo sentir o medo de um adolescente descobrindo o amor. Ser querido me faz ser, procurando na loucura do meu viver um jeito de perdurar o sentimento mais sereno e sem  gosto de veneno, que torna o sofrimento apenas um olhar distorcido de quem se perdeu em uma ponta de libido, que fora abandonado em esquecimento nos sonhos daquela que se deitou sozinha de noite e desejou meu cheiro.

Pernas em laços perfeitos, contornos esculpidos em afetos que separam teu corpo suado do meu, me expulsando os pés, as pernas e a alma de um lençol com cheiro de roupa limpa, onde a face tua encosta na minha língua e nariz, confundindo meu ar com o desejo, de antes de você acordar. Simplesmente para dizer que estava eu a sonhar com o orvalho da paixão que não quer saciar. Eu te peço, deita sobre mim. Respira no meu pescoço e me enche os sonhos de ternura com a maciez da pele tua, semi-desnuda de pudor e abraçando meu tronco com força, me grita com os olhos de amor: "bom dia, sonhei que era você e só você."

Que dos dias fiquem os sorrisos, as juras perdidas em dois corpos que ainda com vontade no abraço se lembram dos menores momentos em par. Com medo da dor que já conheço, com os riscos de talvez ter de pagar o preço maior: o esquecimento daquilo que hoje é o meu pedaço mais bonito de um mundo construído em nuvens brancas de paz. Essa que é, tirada quando vejo o brilho da tua quase-inocência apontando meus olhos sonhadores, me espantando os temores e me fazendo te querer. Do lado e não para mim, comigo e por dentro te tenho em cores simplórias de um desenho que reflete o desejo de que o fim jamais um dia chegue.
 
   E se chegar enfim, que tenhas a certeza que estarei escrito em ti assim como estás em mim. Fazendo parte de algo que não se acaba, que apenas se transforma, assim como a morte que leva embora a carne e transmuta em energia tudo aquilo que do resto sobra. Eternizando na beleza da existência do quê de mais formoso eu pude sentir: seu corpo no meu enquanto te via dormir.
Dormindo em um lugar só de você e não, de nós. Onde não cabe a mim.