Total de visualizações de página

16 de junho de 2023

Carnaval Fora de Época

Máscaras de um Pierrot, papel marchê.
Um gole, e um suspiro inspira um trago.
Em pensamentos deito, me viro
Não me suporto, não me inspiro.
Me limito.
Sei que estou, sei que quero
Sei que posso, sei que consigo
Mas desdenho, estou vivo.
Delírios em sementes de angústia
Noites de calor em céu estrelado e lua.
Mais um gole, e agora um trago.
Em homenagem ao bêbado,
Em homenagem  ao desagrado.
Quase um desgraçado.
Menino-homem  em abandono
Largado ao vento de mudanças,
Colombina? Sem esperanças.
Pierrot escolhe o bloco
Vestindo-se em um palhaço.
Um gole.
Mais um, só mais um e depois outro.
Outro trago, seguido de mais 1/4.
Um escarro de veneno
Um carro
Um estrago
Um puta estrago
Um carro sem puta e amasso
O quê de um palhaço foi tirado, aprisiona.
Prende em um recanto que há muito fora abandonado.
Um pedaço de chão e riso de criança sem calor de pai
Esculpidos em descasos dentre laços maternos.
Em afagos e cuidados memoráveis.
Compostos de sangue sem par, fraternos.
Um templo solitário que os medos traz à tona
O limite do horizonte, que em recantos de versos simplórios dormia
Se pôs em  linha tênue, entre a razão e a melancolia.
A fronteira frágil que trouxe o palhaço, àquilo que não queria.
Ele, ele mesmo e o Espelho, como João Nogueira dizia
Se sentiu pequeno, se fez grande.
Gritou, bateu, apanhou e se desfez.
Se entregou a dor pra morrer sem demora
E não percebeu que o amor sobrevivia
Do crepúsculo à aurora.
Renascendo em um pedaço de chão-sozinho
Pelas ruas abarrotadas, seguiu chorando
Seguiu sorrindo.
Em um sopro de poesia esquecido
Em lírios cantando versos sofridos
Em um campo infindado de sonhos quebrados,
Cuidadosamente esculpidos
Desgarrados, quase desgraçado.
Pierrot e Colombina
Eles, um mito.
Ele, um grito.
Ela, sorriso.
Separados, ora pois.
É a história.
Triste pra um.
Talvez, só talvez - triste pra dois.
Mesmo que Arlequim não haja, ora bolas.
Há lágrima por dentro em um.
Há saudade presente em dois.
Sorrir, sorrindo, sorria.
O palhaço veste a fantasia.
É mesmo sem ser, carnaval sem luz do dia.
Viver sem o egoísmo de trocar, ora pois
O sofrimento só de um, pelo fracasso de dois.
Prosas em preces, minha velha amiga, 
Estou sofrendo, todos sabem!
Está claro com o dia, 
Nos lençóis da intimidade
Era o seu nome que eu dizia
Pois disseram que a falta do riso em chuva 
O Pierrot sabe bem reconhecer.
Transformando dia em noite
E noite em dia,
Gritou pedindo ao povo da rua 
Implorando pra lhe dizer,
Desejou toda a felicidade do mundo a você.
E pediu pelo direito de em paz, conseguir sofrer.