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29 de agosto de 2018

Disseonário do Vômito

Há uns 23 anos eu era um skatista cabeludo que escrevia sobre aurora, crepúsculo, amanhecer, eclipse, coisa e tal. Era algo meio a ver com reflexões envolvendo ciclos da vida, filosofias associadas ao surf e tudo mais. Tudo isso em um período em que o carioca era dominado pelo Bonde do Tigrão. Meu nome é Nemer. "Nemer" significa "tigre" em árabe e como é de se imaginar, era algo que escondia na época. Mais tarde, uns 10 anos depois veio o mala do Felipe Dylon (já ensaiamos juntos hahaha) e a Musa do Verão, que me fizeram perder completamente o interesse pelo o surf, e retirando da internet vários textos que até então havia escrito. Já em 2009 uma série de livros se tornou popular e eu (ainda na imaturidade de querer me preservar autêntico) reescrevi, retirei e adaptei vários textos que compartilhava - de novo. Ora, não dava pra resumir os meus delírios de adolescente de 15 anos a vampiros porpurina e lobisomens peito depilado. Que dirá ser associado a cultura do surf aonde as referências eram marginais "wanna be" locais do Arpoador.
   No meio desses processos, escondi as minhas letras, minhas músicas e tudo mais. Por que eu iria dividir as minhas idealizações de mundo com uma sociedade que preferia brigar pra ver se no Canecão iria ter Lulu Santos ou eventos culturais da UFRJ? Minha terapeuta diz que meu lado que gostava de artes e música foi ofuscado pela minha vontade de ser aceito socialmente e, nas palavras dela: "virou um mito e deveria ser mais explorado." Sabe como é, né? Minha cabeça é meio diferente e depois que ela falou a palavra "mito" eu não ouvi mais nada. Fiquei cego... agora mais uma palavra virou um problema na minha cabeça confusa. Crepúsculo, vampiros, lobisomens, surf, cultura pop dos anos 80... cara, quanta coisa bacana jogada, tacada como um pedaço se carniça no meio de um monte de iena gorda. Agora a palavra "mito" e devirados "mitada",  "mitou" e "mitação" fazem parte do meu dicionário do vômito. Juntamente com a calça da Gang, carnaval em Cabo Frio, sanduíche de mortadela, lavajato e tudo o quê ela representa. Enquanto vocês se matam pra ter razão e acalmar o ego tirando selfie e comentando as eleições, tem gente querendo ver e ouvir idéias, aprender sobre o sexo dos anjos e trabalhar pra conquistar as coisas, é claro. Mas com o foco em trocar de forma saudável, crescendo e construindo durante o processo. E não sugando, parasitando, separando, brigando e "mitando".
   O "Mito"... daqui a pouco passa, tipo a Eguinha Pocotó, o Bonde do Tigrão e o Planeta Xuxa. O mais triste é que acaba sofrendo o efeito "bigodinho de Hitler" - eu prefiro não usar pra não fazer apologia.