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5 de agosto de 2025

Doces Bárbaros, Chico, Caetano, Urina. E por debaixo de caracóis de pensamentos, uma estória pra contar.

   Como em um nascer do sol, onde as estrelas se escondem pouco em pouco no céu com tons leves de rosa e azul-anil. Como das vezes em que me sinto vivo apenas por ser, em paz por estar e pertencer. Os olhos brilhando procuram, vagam, sentem. E antes mesmo que um suspiro se torne em um grito de felicidade, é possível saber que um sonho se fez de flor ainda em botão. Quase a flor da pele.
   
   Cinco de cada um deles. Ouviu dizer que assim, uma outra alguém queria. E da maneira mais sensata se perguntou por que a felicidade apenas era esperada de algo que ele possuía, mas não daria. Sorriu com brilho, sol e vento. Alegria, alegria! Cantou o blues de seu coração em uma conversa de pensamento e consciência, concordando. Porém de um jeito simples-quase-terno, não disse que para o ano ser feliz apenas era preciso um de cada dois. E não uma vez por semana, mas sim uma vez por cada eternidade.
    
   Sorriu daquela vez como se fosse a última, e com seu passo tímido pôs-se em prova que a maior prova de que um conto escrito em prosa chegava ao fim, era o fato de ser visto pelos olhos de seu desejo como alguém que já era percebido diferente.  Foi chamado de menino em um olhar de desencanto que cortava feito faca amolada. Irene sorrindo e encantada com o mundo devolveu-me o chão no fim de uma queda. E foi quando meu coração finalmente quebrou-se em pedaços. Espatifou-se.
  
  Gargalhadas, risos, devaneios, urina e lágrima. Nesse instante foi quando parou pra descansar como se fosse sábado, tropeçando no céu como se fosse um bêbado às quase-oito horas da manhã. Se percebeu na construção de um castelo de areia banhado pela fúria de uma poesia de Caetano, fazendo com quê da maneira mais doce, o seu lado rústico e bárbaro aflorasse. Assim, eu vi pelo retrovisor do carro indo na direção contrária do vento, sem lenço e sem documento que o mundo me esperava. E que como Peninha cantava, eu faria o mesmo do meu jeito: sozinho.

  Sorte dos que sentiriam a falta, porque nesse momento fez-se o dia. E mesmo depois de quase morrer na contra-mão atrapalhando o tráfego, o primeiro que foi ele, portando um broche de ametista, como quem chegou do bar a chamando de perdida. Percebeu que não havia muito tempo que o coração da luz das acácias tinha sido por ele partido. Sentiu-se perdido e sem escolha, pois o terceiro a ela chegaria, e nada perguntaria. Chegaria sorrateiro, deitaria em sua cama e colocaria fim nas esperanças do homem lindo que se acaso a sina fosse continuar a amá-la, assim o faria. Enquanto outro a chamaria de mulher.

   Como em um eclipse oculto, surge um soluço e uma vontade de ficar mais um instante. Por toda a eternidade e em cada pôr-do-sol, que na areia branca como seus pés, nunca irá tocar. Janelas e portas se abririam para ver ela chegar, jamais chegaria. E assim, se sentindo em casa, sorrindo irá chorar. Apenas por na memória guardar histórias pra contar de um mundo tão distante.

Nesse dia, respirando poesia, eu desacreditado afirmei: um sonho morreu.

13 de maio de 2025

Os Caras Legais Talvez Não Existam

   Existem caras que escrevem, compõem, transpiram libido, pintam, desenham e falam de emoções além da fome de conquistar as coisas - sabemos, parece a coisa mais interessante do mundo. Mas a gente perde a graça depois de 2 semanas ou 3 meses, a gente não é só isso, a gente é conflito interno, é caos, é disturbio de intensidade, é de carne, é de sentimento. Sempre tem alguem mais saradinho, sempre tem alguém que oferece mais vantagens.
 As pessoas passeiam entre as camas e bares, querem lapidar a nossa existência com suas referências egoístas, pra fazer a gente caber num terninho de principe guardado lá no armario da intimidade, juntando mofo ao longo das frustrações mascaradas de causas coletivas e rotina agitada, junto a tanto lixo emocional.   Aparentemente, eu só tenho visto, vivido e revivido reafirmações de que ninguem mais acredita no quê a TV nos vendeu de 1950 a 2013 quando começaram os streamings, de que a gente tem que viver só pra gente e deixar a vida surpreender de vez em quando. Haja pai e mãe de pet, haja Tinder, Bumble, Hppn, haja anestesia, haja esquete de roteiro teatral do mesmo personagem com as mesmas performances nos encontros, trocando o lençol, trocando as fronhas, o endredom, o cenário mas nunca abandonando a playlist que embala nossa tentativa de acalmar tudo aquilo que se repete semana após semana. 
  A gente se sente um desperdício porque o problema está no "como" e não no "quê", nem no "aonde" ou em "quem". Quase uma doença social que não existe pelas emoções e sim, apesar delas. Viver pelo coração significa que todo dia escolhemos preservar o amor que nos plantam e não, as pessoas em sí. Escolhendo a distância pra tentar preservar aquilo de bonito que nos despertam, sem lhes dar tempo de murchar nossos refúgios de paz.

11 de maio de 2025

O Corpo Tem Memória

    O verão se foi desde março deixando espaços brancos em parágrafos de afeto. Sigo apreciando as flores fora de época, os tons pastéis, os dias nublados. Acordo tocando a memória do corpo, fugindo de outros corpos, sentindo a sua presença bem alí: entre um nó na garganta e o peito, me deixando de guarda baixa, me fazendo mudar o semblante, reafirmando velhas perspectivas. 

    Sinto sua falta. Desde o dia em que te conheci, desde ontem, desde hoje e acho que por enquanto, sempre. Eu iria atrás, eu perderia a postura, eu te ligaria todos os dias, procurando sua presença, seu colo, você nua. Não enlouqueci e desci pra rua, pra caminhar, pegar um vento. Ironicamente a chuva não me incomodou porque era tão fina que meu cigarro de cheiro suspeito continuava aceso. Cheguei na praia, olhei pro mar desfranzindo a testa, relaxei a expressão e dei graças por ele ainda estar ali. Revolto, imponente, respirando através das ondas que se quebravam na arrebentação. Olhei pro céu e a lua quase cheia não aparecia mas ainda sim com esperança, tranquei meus sonhos em uma garrafa cheia de flores e antes de pensar em pedir qualquer coisa - te desejei do fundo do meu coração, toda a felicidade do mundo. Me pus no meu lugar, olhei pra frente, evitando me perguntar o porquê de doer tanto ser todo, ser por inteiro e quando o peito grita, não ser o suficiente. Somos nossas vivências e o corpo, tem memória.